Podemos traduzir o termo bulling com palavras que ressoam mais claramente entre nós e que nos aproximam mais de nossa cultura e então teremos o novo nome da humilhação, do desrespeito do constrangimento, da tirania de um sobre o outro. Enfim, o outro nome da violência e de sua exacerbação.
Em se tratando, em menor ou maior grau, de um ato de violência de um para com o outro vamos encontrar ressonância entre alguns autores importantes da filosofia, da sociologia, o da psicanálise
No campo da filosofia, Hannah Arendt concebe a violência comoCRIAÇÂO. Como algo que emerge nos humanos diante da anulação da capacidade de agir . Diante da falta de consenso. Do excesso de mando de uns sobre outros.
O sociólogo Emilie Durkhein, fala da ausência de valores, da desintegração das normas e da lei na modernidade. Que tem como resultado uma ANOMIA. Ausência de referenciais identificatórios. Falta de lugar, Invisibilidade.
Em Freud vamos encontrar o conceito de MAL- ESTAR do sujeito diante de sua incompletude. A violência pode se colocar então como uma resposta ao mal estar, como solução frente a dor de existir de cada um. É possível lidar com esse mal- estar tanto de forma sublime como destrutiva.
Sendo assim podemos concluir que: o ato violento, a humilhação ao outro, o desrespeito e a violência podem então ser entendidos como respostas, saídas que o sujeito inventa para fazer frente a uma situação de desamparo. Uma tentativa da criança ou do adolescente, até mesmo do adulto de anular o que imaginariamente ou concretamente o oprime, o impede de existir. Dar- se um nome, um lugar, ter visibilidade na sociedade, afastar o mal-estar inerente a toda criatura humana.
A Escola de hoje
Nas Escolas de hoje, estamos ficando cada vez mais longe do conceito de agressividade, considerado pela psicanálise como um movimento do sujeito de se separar do outro. Descolar-se do outro, se diferenciar do outro é um movimento ´saudável de toda criança em crescimento. Estamos ficando longe também do acerto de contas,das pastas lançadas na praça depois das aulas, da roda da briga depois de uma desqualificação feita por um aluno a um outro dentro das dependências da escola.
E muito perto da violência como passaporte para existir. Da máxima de Descartes “Penso, logo existo” que valorizou nossa existência e capacidade de construir passamos ao “Tenho logo sou” da sociedade contemporânea do consumo e do espetáculo. Na verdade estamos, frente a carência de mecanismos, instrumentos e dispositivos civilizatórios, mais próximos da aniquilação do Outro. Convivendo com uma exacerbação do narcisismo na sociedade de consumo e da prova de poder perdido, do que de tentativas saúdáveis de diferenciação do outro que se manifesta na agressividade na infância e na juventude.
Que tratamento, que soluções teríamos para o enfrentamento da questão?
Inicialmente temos que nos perguntar sobre o que tem levado nossas crianças e nossos jovens a uma crescente indisposição e intolerância com relação ao Outro. Temos que nos perguntar sobre que espaços crianças e jovens tem tido, ou lhes é oferecido para falar desse Mal Estar frente ao Outro, da ausência de lugar na sociedade, à invisibilidade, à insatisfação que concerne ao simples fato de existir.
Que lugar tem tido a palavra e manifestações criativas e culturais, como elementos civilizatórios, em nossas vidas e em nossas instituições de ensino? No lugar de testes, diagnósticos e da medicalização?
Entendemos que um tratamento possível da violência deva se dar pela palavra. Na medida em que a violência em suas várias facetas e nomes invadem os espaços privados, as telas das tvs, a internet as escolas e as ruas é preciso e na mesma medida, criar-se espaços para escutar humilhados e quem humilha, de onde a violência vem e a que ela responde. A violência se coloca exatamente ali onde a palavra não pode ser dita ou não foi escutada.
E ainda nos perguntar?
Que lugar tem a educação, a qualificação e o professor em nossa sociedade? Ex. as greves de professores recentes em Minas e a vergonhosa remuneração que sempre foi oferecida à eles.
Que lugar teve e tem o ensino da Ética e da Filosofia em nossas escolas?
O que a mídia tem ensinado as nossas crianças e adolescentes? Exemplo recente desse ensinamento está na propaganda de uma marca de energético divulgada amplamente nas redes de TV e pela internet. Onde um simples desenho animado denominado “Porcos com Asas” é capaz de incitar uma criança ao uso de drogas e de armas, a transgressão das normas, à desqualificação da função materna e exacerbação de sua sexualidade.
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